Socialmente inadaptada.

Apercebi-me que o que é social e culturalmente aceite, para mim, é tudo treta. A sociedade dita regras que, na maioria das vezes, são hipócritas. A nossa cultura é capaz de aceitar a desonestidade, o roubo, porque é feio “chibarmo-nos“, mas é capaz de escorraçar uma pessoa por ser diferente e por ter a coragem de o admitir. Vivemos num mundo em que as relações muitas vezes sobrevivem porque um dos indivíduos abdicou da sua dignidade, aceitou traições, falta de companheirismo, falta de respeito, e é aceite que uma criança possa crescer desamparada, sem pais, sem apoio, ao invés de ser adoptada por duas pessoas do mesmo sexo… Por isso, frequentemente, chego à conclusão que o que a sociedade dita vale o que vale (pouco ou nada).
Quando nos apercebemos disto ficamos ligeiramente desamparados… afinal o que sai nos jornais, o que é contado nas novelas, o que é explorado nos romances, muitas vezes é tudo balelas. Ninguém formula as perguntas certas, ninguém se debruça realmente sobre as questões, por isso, ninguém me sabe tirar as minhas dúvidas. Apercebo-me até que muitas vezes as pessoas nem nunca pensaram “naquilo daquela maneira”. Fomos formatados de uma determinada maneira, educados de uma determinada maneira, parece que nos colaram os dois hemisférios cerebrais e nos injectaram com uma data de ideias pré-feitas, e nós vamos existindo sem nos questionarmos se esta merda está toda errada.
Eu tenho passado metade da minha vida a tentar compreender a mente das pessoas, a minha própria mente, o amor, a amizade, a mentira, a verdade, o porquê das coisas, qual a linha que separa o certo do errado. Dei por mim com uma visão (talvez, demasiado) plástica, em que quase tudo pode ser aceite. Já o Saint-Exupéry dizia “o essencial é invisível aos olhos”, e cada vez mais me convenço que andamos todos de palas nos olhos. Já o disse várias vezes, e quem me conhece sabe que sou capaz de ficar infinitamente a falar sobre estas questões, mas caramba, será possível que em pleno século XXI eu ainda sinta que metade do tempo temos que esconder quem somos? que não possamos falar abertamente sobre o que sentimos? Não espero que toda a gente me compreenda, aceito que a grande parte das pessoas ainda não veja para além do óbvio, mas às vezes cansa. Às vezes só me apetece chamar nomes às pessoas quando gozam com o que é diferente simplesmente porque não o compreendem. É pura ignorância.

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