Qualquer coisa


Sons, luzes, música, caras por todo o lado...
Vibrações, sensações, emoções...
Deixamo-nos ir, embalados pelo som que nos rodeia, e quase que nos conseguimos entregar.
Há braços no ar, pessoas a saltar, aquela letra que conhecemos de cor, sorrisos, gargalhadas... Fechamos os olhos e ficamos ali a sentir, só a sentir.

Mas há qualquer coisa que não bate certo, há uma falha, um aperto, algo que nos puxa para a sobriedade, que não nos deixa simplesmente ir, que não nos deixa libertar-nos. Falta qualquer coisa, o sentimento de aconchego, a gargalhada que rima com a nossa, o braço que nos agarra a cintura, a mão que nos conduz, e aquele olhar que não precisa falar para ser ouvido. Falta qualquer coisa, mas não é uma coisa qualquer. É aquela coisa, a que dá sentido a tudo na nossa vida, a que preenche o vazio no nosso peito, aquela que envolve a nossa alma, a que nos completa. É aquela coisa que nos dá a felicidade, aquela felicidade imensa que parece que jorra por todos os poros do nosso corpo, que nos dá energia.

Tentamos não pensar, tentamos ignorar e continuamos a dançar, a tentar sentir, a tentar cantar... Quase que funciona, só que na realidade não. 

Reviravoltas

Apercebi-me que não sou mais a mesma. Desde que entraste na minha vida sou um turbilhão de coisas que não era, ou que achava que não era, que não via, que não entendia. Estranhamente reconheço-me melhor agora. Estranhamente sou mais eu agora do que fui em qualquer outra altura da minha vida. E sim, estou perdida, é verdade, perdi-me na imensidão de coisas que me fizeste descobrir sobre mim mesma… Preciso de tempo, preciso de espaço, preciso de paz para me redescobrir, para reencontrar o meu equilíbrio. 
É fantástico como algumas pessoas entram na nossa vida e a transformam de tal maneira que nos apercebermos que mais ninguém nos vai voltar a ter como tinha, nem nós mesmas. Podia praguejar pelo dia em que entraste na minha vida, mas a verdade é que me libertaste, me desde espaço, me deste visão suficiente para me questionar, para me procurar e para encontrar, e não há nada mais que eu pudesse pedir. Por isso obrigada! Obrigada pela reviravolta que deste no meu interior, porque  no meio do que não sei, do que ainda não entendo, do que ainda não consigo processar e encaixar na minha vida, sinto-me muito mais eu e muito mais próxima do que quero ser um dia.

Cansaço amoroso


Estou cansada do amor. Apercebo-me ultimamente do quanto estou amorosamente exausta. Estou cansada da luta, estou cansada da esperança, estou cansada de sonhar, estou cansada de me desiludir. É triste, é injusto para quem está do meu lado, mas estou cansada. O amor esgota-nos. Não. Perder o amor esgota-nos. Apaixonei-me vezes sem conta, desiludi-me outras tantas e receio que não me tenha entregue a 100% em nenhuma delas, mas, e talvez por isso, estou estafada. Porque embora não tenha dado tudo, ainda assim, dei muito, dei talvez demais, e perdi-me. Já me achei, já me perdi novamente nos entretantos, e a cada obstáculo, a cada recuo, sinto-me cada vez mais a desistir, a não querer saber, a não querer pensar, a não me querer dar.

Dou por mim a negar o amor, dou por mim a negar a luta, dou por mim a sussurrar para mim mesma “não estou preparada para isto”, “ainda não consigo”, “preciso de tempo”, “não consigo fazer isto”, “está demasiado complicado, demasiado doloroso..”, “não quero mais”, E quase, quase que desisto… Talvez devesse fazê-lo. Talvez esteja mesmo tudo errado, talvez não haja volta a dar, talvez seja melhor ir embora e, um dia, começar de novo.

E depois abano a cabeça, afugento estes pensamentos derrotistas, bebo um chá quente para me aquecer a alma e continuo em frente…

Perdemos os dois.


“Quem perde é ele.”

Dizem-nos isso como se nos fosse consolar, dizem-nos isso para nos apaziguar o coração partido, dizem-nos isso para nos ajudar, mas não ajuda. Não é só ele que perde, são os dois. Porque perder o que se conquistou, se desistir de tudo o que se lutou é demasiado triste. Talvez eu seja uma saudosista, uma romântica incurável, mas caramba, como não ser? Ainda não descobri... Não sou racional, não vou simplesmente seguir em frente e esquecer o que vivemos, o que deixámos ir embora. Não vou esquecer o toque do corpo, o calor do abraço, o som da gargalhada, e decidi que também não vou simplesmente fugir e não olhar para trás.

Estou cansada de coleccionar histórias de amor que têm tanto de lindas como de tristes, chegou a altura de fazer o luto, enfrentar as memórias e, um dia, deixá-las ir. Até lá as lágrimas vão continuar a cair de tempos a tempos, o meu corpo vai sentir falta de alguém, e não vai querer mais ninguém.

Porque perdemos os dois, e não vale a pena fingir que não é verdade. Eu perdi-te e tu perdeste-me... Talvez seja melhor assim, não nego, mas não deixa de doer, não deixa de partir o coração quando “nós” deixamos de existir. Começa a surgir aquela sensação de “nunca aconteceu”, como se nunca tivesses estado aqui, como se tivesse sido tudo um sonho e eu acordasse agora, sozinha... A cama está fria e vazia do teu lado, que era qualquer um deles... E dormir é a melhor parte do dia, porque não tenho que enfrentar a realidade, vou para onde a minha cabeça me levar ou não vou para lado nenhum. Acordada não há hipótese, a realidade bate de frente, como uma chapada aos primeiros raios de sol, e só se vai embora quando o sol se põe. E eu vou viver isto até já não doer, porque eu perdi-te e tu perdeste-me, e não há como negar.

Alergia ao amor


Nós vamos esperar, vamos chorar, vamos rogar pragas ao destino por nos colocar nesta situação. Vamos ter alergia ao amor, aos casais, às mãos dadas, aos finais felizes e vamos fingir que isso não é para nós. Vamos andar assim uns tempos, meio dormentes, sem sentir nada, nem amor, nem dor, nem tristeza, nem felicidade, até ao dia que em nos conformamos com a triste realidade de que o amor sozinho não chega.

E quando acharmos que estamos bem vamos baixar a guarda, tirar as barreiras e vamos esquecer a dor. Vai parecer que foi há já tanto tempo que nem nos lembramos de como foi mau, e vamos dizer para nós próprios “não foi assim tão insuportável”. E então vai surgir alguém que nos vai fazer esquecer tudo isto, que nos vai mostrar que dormência não é felicidade, que não sentir nada não é de, todo, tão bom como as borboletas no estômago, e vamos deixar-nos levar… O que vai acontecer? Possivelmente tudo de novo, o amor, a felicidade, a incongruência, a luta para sair, e o fim. Mas pode ser que não… pode ser que não...

Ligações


O que define a ligação entre duas pessoas não é tanto tempo que passam juntas ou a proximidade dos seus corpos. É a intensidade com as suas almas se conectam, a ponte que se cria entre as suas mentes quando os seus olhos se cruzam. A ligação entre duas pessoas resulta da química dos seus corpos, do partilhar das suas ideias, pensamentos, sensações... às vezes tão profundamente que se entranham no ser, de tal forma que já não sabemos quem deu o quê, se surgiu de um, de outro ou do "nós". Está num toque, num beijo suave, ou numa paixão consumada. Não interessa quantas vezes fizeram sexo se não se tocaram na alma. Não interessa quantas vezes dormiram juntos se não se sentiram seguros e aconchegados. A ligação entre duas pessoas que se amam, que se querem, está para além do que se diz, e do que se faz, está principalmente no que se sente. A ligação entre duas pessoas é o que se tem quando estão juntas mas, e acima de tudo, o que fica quando estão longe.